quinta-feira, 23 de junho de 2011

CRISTIANISMOGUERA

         "Nos séculos XVII e XVIII, muitos padres aproveitavam o momento da confissão para assediar sexualmente as mulheres.
      Uma das formas de violência sexual às quais as mulheres estavam submetidas no Brasil colonial era a investida de padres, que apreveitavam o momento em que ouviam as confissões para assediá-las, especialmente quando as penitentes revelam os chamados pecados da carne. Como eram delitos cometidos somente por padres, essas práticas nunca foram julgadas pela Justiça comum, e assim pela Justiça Eclesiástica. (que na verdade nunca funcionou)-adendo meu-
           A confissao anual obrigatória foi um dos principais instrumentos da Reforma Católica, inspirado pelo Concílio de Trento. (lembrando: tudo criado e invenado para dominação de um povo)-adendo meu-
       De acordo com a documentação inquisitorial guardada no Arquivo Nacional da Torre de Tombo, em Lisboa, 503 mulheres denunciaram 425 padres por solicitação  no Brasil entre 1610 e 1810. Mas como a maioria das mulheres era analfabeta, muitos padres escreviam as denuncias para os Comissários do Santo Ofício.
        Muitas vezes as mulheres eram responsabilizadas pelo desvio de conduta dos párocos, transformados em vítimas da tentação feminina. Os solicitantes, para se defender, valiam-se de representações da mulher derivadas de um modelo estabelecido pelo cristianismo: elas só pdiam ser Marias ou Evas, santas ou pecadoras. Esse modelo, além de servir para classificar as mulheres, justificava as agressões àquelas que eram acusadas de falta de pudor, de virtude ou de modéstia, identificadas com Eva.
        O modelo de comportamento feminino ideal, representado por Maria, era incompatível com a vida cotidiana daquelas que trabalhavam para sobreviver, sem a tutela masculina. Só poderia ser aplicado às mulheres abastadas, que viviam reclusas em suas propriedades e dependiam de seus pais ou maridos. Esse padrão de identidade feminina, vindo da Europa, tornou-se mais cmplexo na Colônia, pelo peso que a entnia adquiria numa sociedade em que havia a escravidão de índios e africanos. Índias, negras e outras mulheres pobres eram alvos fáceis  para as investidas dos solicitantes, embora as de melhor condição social não estivessem totalmente imunes.
        Foi o que aconteceu com a parda forra Ana Maria dos Serafins. O confessor não mediu palavras para tentar obter o que queria, mas ela repeliu as insinuações do padre Bento de Souza Álvares alegando que viera lavar-se dos seus pecados dos quais se arrependia. O vigário insistiu para que Ana Maria deixasse o arrependimento para a hora da morte, pois tinha maiores culpas, e se animou a querer-lhe levantar a saia, apriveitando o fato de a igreja estar vazia. Desvencilhando-se, a mulher fugiu para a rua. O padre a seguiu, tornou a pegá-la, e tentou levantar sua saia enquanto ambos desciam a ladeira do Convento de São Francisco do Rio de Janeiro, no qual ficava a Capela dos Terceiros, onde Ana Maria fora se confessar.
        Os casos de abuso são incontáveis. Frei Euzébio Xavier de Gouveia chegou a dizer à escrava Joana que tanto fazia casar donzela quanto já corrupta, enquanto agarrava seus seios. Na Bahia, o padre Pedro da Silva costumava perguntar às penientes se elas tinham vaso grande ou pequeno.
        Quando se apresentou ao comissário do Santo Ofício de Pernambuco, para confessar o abuso de seis mulheres, o padre José Pereira Afonso se explicou dizendo que os confessores não solicitavam mulheres na confissão e que as coisas não eram assim na Europa, por viverem as mulheres com mais recato e não haver tanta solidão, nem escravos que no Brasil são a perdição das casas.
       A obrigatoriedade anual da confissão durante a Quaresma, determinada pelo IV Concílio de Latrão, permitia que o clero tivesse um controle sobre o comportamento de seu povo. (é para isso que serve o confessionário)-adendo meu-
Os fiéis também eram estimulados a se confesssar pela necessidade de absolvição dos pecados para a salvação da alma. Ao profanar esse "imporante sacramento", a solicitação comprometia o sucesso do movimento reformador inspirado pelo Concílio de Trento. (agora você sabe para que servem os ditos Concílios)-adendo meu-
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                              Guera, puera, quera

        Ao juntar, a um vocábulo X,  terminação -guera (-quera ou -puera, de acordo com a eufonia), obtemos uma curiosa alteração semântica: X + guera é o que foi X, não é mais (ao menos, em sentido próprio e rigoroso), mas preserva algo daquele X que um dia foi. Assim, anhangá é diabo, espírito com poderes; já anhanguera é alguém que sem ser (mais) diabo, preserva algo do poder que um dia teve em plenitude.
        A composição guera é frequente no tupi (língua indígena) e está continuamente a nos recordar que há uma conexão entre o presente e o passado, entre o futuro e o presente; que há leis naturais regendo o desenvolvimento das coisas e que as ações têm consequências: projetam-se, deixam um rastro, um guera.
        O português não distingue a carne integrada no vivente, da que se vende no açougue; nem a pele do animal vivo da que está na bolsa ou artefato. Porém, para a sensibilidade em face da natureza, que há no tupi, soó é carne viva do animal, mas a que está na panela ou churrasqueira é soóquera; a pele, no corpo do animal vivo, é pi; uma vez extraída, porém, é pipera. E peruca é abaguera (aba é cabelo vivo); enquanto de canga (osso), forma-se canguera,ossada, esqueleto de animal; e pepocoera é a pena (pepó)
arrancada do pássaro.
         A articulação tupi X + guera pode ser de grande alcance antropológico. A ética clássica ocidental apoia-se na construção de que o ato humano não se esgota no momento que a ação foi praticada; deixa marcas, projeta-se. Segundo Gabriel Perissé: "O passado é aquilo que não passou. É aquilo que ficou em forma de experiência, de conhecimento, de conselho, de consciência e de capacidade de análise".
         Ficou criando na alma, por exemplo, uma predisposição (um guera) para o vício ou para a virtude. Precisamente este é um dos sentidos de guera: o hábito, a disposição para praticar novos atos no sentido dos anteriores.
        O passado permanece no presente, e é, como escreveu o contista angolano José Eduardo Agualusa, "como o mar: nunca sossega".
       O bullying que a criança sofre hoje pode deixar uma maca para o resto vida; um trauma qualquer pode custar anos de terapia."

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        Textos extraídos das revistas "Revista de História da Biblioteca Nacional" e  "Língua portuguesa".
        Para ler os textos na íntegra:
        1. "Revista de História da Biblioteca Nacional", p.58, artigo de Lana Lage Da Gama Lima, junho 2011
        2. "Língua Portuguesa", ed. Segmento, p. 26, artigo de Jean Lauand, junho 2011.
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         Título do blog criado por mim: "Cristianismoguera"
                                                

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