segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Teledomingo




Estou indignado quanto ao programa apresentado pelo Teledomingo no início deste ano.

No início da reportagem, o Túlio Milman diz que o Teledomingo “irá mergulhar nos mistérios das religiões afro-brasileiras.” Na verdade, eles não chegam a mergulhar e sim molhar os pés mal e porcamente. Talvez por medo da água ou por não saberem nadar nesta profundidade.

 Logo após, falam sobre os navios negreiros. De fato, foi dessa forma que os africanos escravizados, e não escravos, chegaram aqui. Bem dito pelo Túlio: “Foram arrancados da África.” Ele poderia ter dito também que os navegadores tinham o grande aval da Igreja Católica. A “Santa Igreja de Jesus Cristo.” Mas não falou.

Depois disso, fala em Oxum, Iemanjá, Oxalá.... Muito bem. E mostram um altar de Umbanda. Não desprezando essa religião. Mas aqui há um erro: misturaram a religião africana com a Umbanda. Poderiam ter explicado: as imagens católicas eram usadas para disfarçar os cultos africanos. Pois eram perseguidos pela Igreja, pela “Santa Igreja”, como algo demoníaco, contra os fundamentos de “Deus”. De um suposto “Deus”. Mas não disseram. Aqui já começa a confusão visual para aqueles que não têm um conhecimento sobre religiões espirituais.

Após, fala uma antropóloga. Mais uma vez o pano de fundo é um altar de Umbanda. Diz que cada Orixá corresponde a um determinado elemento da natureza ou alguma atividade humana. Muito bem. Mas não explica o que é um Orixá. Por exemplo: Xangô. Ele foi uma pessoa que existiu na África. Foi rei do Reino de Oyó.  Esse espírito se manifesta através de incorporação. Hoje a ciência prova as manifestações espirituais. Hoje se sabe que espíritos existem. Poderia ter dito isso. Mas não disse. Para o leigo vai parecer delírio da mente humana.

É mostrada também antes da fala da antropóloga uma oferenda no mar para Iemanjá. O lugar de oferenda não é no mar e sim no rio. Mas isso é outra história.

Mas agora é que se apresenta um enorme erro!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Após a segunda fala da antropóloga que diz que alguns rituais de determinados Orixás, entidades, devem ser praticados fora por habitarem aquele determinado local, o Túlio diz que a encruzilhada ou o cruzeiro é o encontro das energias. Mas quais energias???? Ele não diz. Não é explicado. Aqui foi uma sessão de palavras que carecem de muita explicação.  Inclusive as da antropóloga.
O  que é mostrado nos fundos de um cemitério é um ritual de Exu, regado a cânticos próprios para eles, e não de Orixás. Não sei qual a intenção desta reportagem de fato. Não está informando ninguém. Está desinformando. Pois mal estão falando em Orixás e mostram, logo após, um ritual de Exu ( onde as pessoas estão vestidas de preto e vermelho) que é algo totalmente adverso aos Orixás. A pessoa leiga vai pensar que o Culto aos Orixás é sacrifício de animal no cemitério, regado a pipoca e cachaça.
Quando o presidente da  Afrobrás, Jorge Verardi,  diz que,no culto aos Orixás,  é oferecido animais a essas entidades, o  programa Teledomindo  mostra outra vez um ritual de culto ao Exu, onde o senhor Paulinho do Xoroqué está sacrificando uma ave para algumas entidades de cemitério: Exus. Mais uma vez nada tem haver como Culto aos Orixás. Além do mais o Teledomingo associa a palavra Orixá a uma imagem de Exu. Podemos dizer que é uma mensagem subliminar. Quando acontece isso? Quando o Jorge Verardi no  momento em que pronuncia a palavra Orixás é mostrada uma imagem de Exu quando o senhor Paulinho do Xoroquê atira uma ave sacrificada diante desta imagem.  Inclusive o senhor presidente da Afrobrás não dá explicações esclarecedoras.

       A reportagem do Teledomingo foi uma péssima apresentação da cultura africana no Rio Grande do Sul. Creio que a intenção foi denegrir o Culto aos Orixás através de mensagens subliminares, relacionando-o ao culto aos Exus. Seria preferível não ter apresentado nada ao povo gaúcho ao ter mostrado um monte de imagem jogada a esmo na televisão. Falta de explicações históricas, falta de explicações do próprio ritual aos Orixás e aos Exus, que são duas coisas completamente diferentes. Falta de profundidade na matéria.

       Uma reportagem asquerosa, repudiante com más intenções.
       Repito: não informa nada!! Só desinforma!!!!
       O que me deixa impressionado também é como o senhor presidente da Afrobrás, que deve ter um ótimo conhecimento da cultura iorubá, permitir na televisão essa reportagem!!!

domingo, 11 de dezembro de 2011

A opinião nos limites da comunicação


A opinião nos limites da comunicação


Em A República de Platão, constatamos uma dura condenação ao sistema democrático ateniense. Ele constatou um problema que se perpetuou por toda a história da democracia: a doxa como critério e seus efeitos perversos.
Este conceito grego, que hoje podemos traduzir por opinião, era utilizado como instrumento pelos sofistas, inimigos da filosofia platônica. Através de um caloroso discurso que envolvia apelo emocional e uma retórica sem muitos fundamentos, esses sofistas controlavam a opinião pública. E quem forma a opinião, em uma democracia, controla a Política. Essa forma de controle nem sempre é racional, por isso não tem comprometimento com a verdade, na visão dos filósofos gregos.
Jean-Jaques Rousseau, em carta ao filósofo D’Alembert, afirmou categoricamente que o homem moderno vive quase sempre alheio a si mesmo. Em sociedade, vivemos muitas vezes sob a ditadura invisível da opinião dos outros. Para o filósofo genebrino, os nossos gostos para comida, roupa, Religião (grifo meu) e parceiros matrimoniais quase nunca levam em consideração o nosso mais profundo e verdadeiro afeto. Na verdade, para o homem burguês civilizado, a verdade sobre si mesmo já não importa mais. A opinião pública é o que determina o que nós devemos gostar ou sentir. A aprovação dos outros é o parâmetro garantidor do certo e do errado. Do que é bom ou ruim para nossas vidas. Por fim, ele afirma categoricamente que é a avaliação do outro, manifestado sob a forma de opinião pública, que define se nós realmente somos felizes. (grifo meu)
No Iluminismo, alguns filósofos como Denis Diderot perceberam não só a importância da opinião pública para a vida pessoal, como também as conseqüências que a recém criação dos panfletos e dos jornais impressos trariam. Perto do término da primeira edição da Enciclopédia, ele percebeu que as verdades científicas contidas nos artigos tinham pouco impacto em comparação aos preconceitos disseminados pelos jornais de sua época. (grifo meu) Afinal, é mais provável que o cidadão leia diariamente um jornal do que um artigo qualquer naquele compêndio. Ele logo percebeu que a razão científica tinha pouca força em comparação ao senso comum legitimado pela “mídia” de sua época. Isso o fez se dedicar ao teatro. As obras teatrais feitas para o grande público tinham muito mais força e influência sobre a vida dos cidadãos e do país do que a Enciclopédia e os jornais juntos. As encenações verbais e visuais têm um apelo muito maior do que o meramente escrito. Esse recurso, segundo ele, é a melhor linguagem para se formar uma opinião pública esclarecida.
Os meios de comunicação de massa, em especial a televisão, se tornaram provas incontestáveis do quase acerto de Diderot. Quase. O único detalhe, como muito bem nos esclareceu Bertolt Brecht e toda escola de Frankfurt, é que os meios de comunicação nunca se preocuparam em oferecer uma influência esclarecedora e virtuosa. Como a mais importante formadora de opinião do século XX, a mídia se aliou aos dominantes e ao discurso do senso comum para sobreviver. Sua postura e sua linguagem foram essenciais para garantir índices de audiência e de lucro satisfatórios. (grifo meu)
É preciso deixar claro que a opinião pública não é a somatória das opiniões individuais, como muitos meios de comunicação querem fazer crer. As estatísticas sobre a avaliação do governo, dos votos para presidente, das pessoas que gostam de chocolate, do consumo de gordura por habitante ou da satisfação com o matrimônio não revela em nada sobre o que cada um realmente sente ou pensa. Os nossos gostos já estão pré-definidos na tabela enviesada que constitui os formulários de perguntas feitas aos entrevistados. Um punhado de gente que seria, em teoria, representante de milhares de pessoas.
A opinião pública antecede a opinião individual. Mais do que isso, ela constitui o que cada um de nós pensa a respeito de um determinado assunto. Como podemos saber se o governo de Hugo Chávez é bom ou ruim se nós não moramos na Venezuela? Quais são os parâmetros que cada brasileiro tem para avaliar negativamente nossos deputados federais se não acompanhamos o dia a dia do Congresso? Quem realmente sabe quais são as atribuições de um deputado? Como podemos afirmar que Gisele Büdchen é a modelo mais bonita do mundo sem termos a oportunidade de compará-la com todas as outras existentes? Na incapacidade de podermos criar uma opinião própria sobre todos os assuntos relativos à nossa vida, tornou-se essencial compartilharmos a opinião dos outros. Afinal, nunca estamos totalmente certos da validade de nossos gostos e pensamentos e muitas vezes necessitamos do aval do outro para podermos agir “corretamente”. A nossa opinião, fruto de uma socialização, é lógica e cronologicamente anterior ao indivíduo. Quase nunca tem origem, em nossas experiências pessoais com o mundo. Se temos opiniões sobre políticos nacionais e internacionais, sobe modelos, sobre índices de qualidade de vida, sobre o melhor computador ou mesmo sobre os melhores critérios para se escolher um parceiro (sejam eles critérios físicos ou de comportamento) devemos aos valores divulgados pelos meios de comunicação de massa. Sejam elas opiniões explícitas ou disfarçadas como querem os jornalistas, por exemplo. São eles que nos informam opinativamente sobre o mundo. A mídia opina sobre como devemos pensar e sobre como devemos viver as nossas vidas.
                                              
                                                                       (Clóvis De Barros Filho)
(Professor de Ética Da ECA/USP e Conferencista do Espaço Ética.                                                                                          WWW.espacoetica.com.br)
Texto retirado da revista “Ciência e vida” – Filosofia, ano IV, nº 44
Referente à última postagem do blog: “Yawo”.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Religiosidade Yorùbá


No religioso yorùbá, Culto aos Orixás (Ìsìn Òrìsà), não existe o mal : a maldade.
Só existe o bem. A prática do bem. Não se pensa o mal, porque não o há.
Ha maldade no grupo étnico yorùbá é repudiada. O "feiticeiro" é morto. Expulso da sociedade.
Para aqueles que pensam que isso é manifestação demoníaca, contra "Deus", deixo-lhes um recado:
                   - isso é manifestação pura da religiosidade de um povo;
                   - a maldade está nos olhos de quem ve, está na própia pessoa que dessa forma a interpreta; demonstrando assim, sua ignorância cultural.